1. Contagem: um verdadeiro polo de resistência
Na década de 1960, nossa cidade entrou para a história em razão da resistência dos operários que lideraram, no justo momento em que a ditadura civil-militar mostrava sua face mais violenta e opressora, o movimento grevista de 1968. Os trabalhadores se unificaram em torno de uma pauta que reivindicava melhores condições de trabalho e também era contra o arrocho salarial que afligia praticamente todo o país. Assim, Contagem ergueu-se forte na oposição à ditadura e os trabalhadores obtiveram um acordo histórico na mediação direta do Ministro do Trabalho à época, Jarbas Passarinho, que veio à cidade com a missão de sucumbir aquele levante antes de sua proliferação. Simultaneamente, um movimento com contornos similares também fora impulsionado na cidade de Osasco em São Paulo. Tais greves ficaram marcadas como propulsoras de um sindicalismo mais aguerrido e menos pelego, dando um recado ousado para os patrões: a unidade da classe trabalhadora e a mobilização popular são capazes de estremecer qualquer estrutura de poder.
Desde então, nossa cidade tem sido vanguardista no que diz respeito à organização dos mais pobres. No fim da década de 1970 e inicio da década de 1980, outro movimento organizado, agora pelos trabalhadores da educação, mobilizou a cidade e obteve importantes conquistas. O PT em Contagem é fruto das muitas lutas travadas no seio da cidade operária de origem industrial. Sua história se entrecruza, confundindo-se com a trajetória de tantos movimentos populares. Nesse sentido, a construção do campo da esquerda no município esteve atrelada às organizações da classe trabalhadora e dos segmentos mais populares, desde a luta sindical e popular até as organizações culturais e religiosas. O Jornal dos Bairros, tal como outras experiências do mesmo tipo, comprovavam o protagonismo da cidade nas lutas sociais do estado e do país.
Ao cabo de longos anos de muita mobilização, em 2005 conquistamos pela primeira vez a Prefeitura e, desde então, conseguimos atingir relativa hegemonia na sociedade contagense. Em 2008, reelegemos Marília Campos que, por sua vez, deixou um grande legado de conquistas para a cidade, obtendo reconhecimento em sua eleição para a Assembleia Legislativa no pleito de 2014, quando alcançou uma votação história.
Em 2012, ano das ultimas eleições municipais, o governo petista desfrutava de uma boa avaliação. Naquele momento, estávamos bem posicionados no tabuleiro da política local e resolvemos disputar a sucessão da prefeitura. Apresentamos a candidatura de nosso companheiro Durval Ângelo, deputado estadual e um dos fundadores do PT em Contagem. Sua candidatura não decolou em razão de equívocos táticos e estratégicos e, então, vimo-nos diante de um fato inédito: PT e PCdoB se enfrentando em uma disputa de segundo turno. Partidos que sempre foram aliados em todos os níveis e que, inquestionavelmente, dispõem de um programa muito convergente, se digladiavam na segunda maior cidade de Minas Gerais.
A disputa deixou marcas e abriu feridas de ambos os lados. Excessos típicos de campanhas eleitorais em cidades grandes foram cometidos tanto pelos comunistas quanto pelos petistas. Entretanto, noutra perspectiva, tal ineditismo também aponta para um avanço da esquerda contagense que, inexoravelmente, tornou-se hegemônica e conseguiu superar as tradicionais lideranças da direita que sempre comandaram a cidade.
O processo resultou em tamanho desgaste que, uma vez terminada as eleições, não havia ambiente para reaproximação entre os dois partidos. O acirramento da disputa levou os comunistas a acordos com setores da direita, forçando a formação de um governo menos coeso e profundamente heterogêneo que, por sua vez, agregou diversas forças antagônicas ao nosso projeto. Deste modo, o Diretório Municipal do PT se reuniu e decidiu assumir uma posição de independência em relação ao novo governo liderado pelo PCdoB. O PT contava com a maior bancada de vereadores na Câmara, um total de quatro vereadores. Os parlamentares petistas, em nenhum momento, fizeram oposição declarada ao governo comunista, mas também não houve adesão automática.
No final de 2014, saíamos de uma apertada e embaraçosa disputa eleitoral, onde enfrentamos uma direita renovada e impregnada de ódio. Desta vez, elegemos pela primeira vez um governador petista em Minas Gerais e reelegemos a presidenta Dilma. O PCdoB empenhou-se nas duas campanhas petistas. Em Contagem, o processo das eleições acabou reaproximando os dois partidos. Assim, no dia 10 de novembro de 2014, recebemos o convite para fazermos parte da base de sustentação do governo municipal e compormos os quadros da administração. Depois de muitos debates que envolveram todas as forças partidárias, assim como o conjunto da militância petista, o Diretório Municipal do Partido decidiu pela maioria aceitar o convite dos comunistas. O que significa que houve uma repactuação entre o PT e o PCdoB na cidade. A partir de então, voltamos a governar a cidade juntos, visto que os comunistas, de igual modo, contribuíram com os dois mandatos petistas.
2. Uma aliança estratégica
A forte crise econômica e politica que afeta o mundo atinge nosso país e, consequentemente, nossa cidade. O atual governo enfrenta muitas dificuldades, tendo como principal desafio uma equação de complicada solução: diminuição na arrecadação combinada com o aumento das demandas sociais.
Contagem é um município de grande porte, com população próxima de 700 mil habitantes, uma receita corrente na casa de um bilhão e meio e um PIB que gira em torno de vinte bilhões. A cidade está entre as trinta maiores do país e tem um peso econômico superior ao de capitais como Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e Natal, no Rio Grande do Norte. No entanto, em função de uma condução irresponsável da política fiscal por parte de governos anteriores, dispõe de um orçamento incompatível com seu tamanho e com as dimensões de seus complexos problemas. Nossa cidade é conhecida como aquela que não cobra IPTU residencial, assume a execução e financiamento do ensino médio por meio das FUNEC’s e “abre mão” de outras receitas tidas como vitais na dinâmica de qualquer economia local.
Contudo, mesmo diante de dificuldades orçamentárias e de uma realidade desastrosa para praticamente todas as administrações municipais, o governo liderado pelo PCdoB mantém os salários dos servidores em dia, os serviços públicos funcionando e ainda impulsiona o desenvolvimento local com uma cartela de investimentos que ultrapassa a casa de um bilhão de reais. São grandes obras de mobilidade urbana e muitas entregas nas áreas de saúde, educação, habitação e assistência social.
Para termos dimensão da gravidade do problema enfrentado pelos municípios brasileiros, basta compararmos Contagem com outras cidades. Se assim o fizermos, observaremos que nossa situação é melhor em relação a muitos outros lugares. E vale dizer que não precisamos ir muito longe para fazermos tal constatação. Nem tampouco tomarmos como exemplos administrações de outros partidos. Diante disso e de outros fatores próprios da política contagense, consideramos que o prefeito Carlin Moura dispõe de condições objetivas favoráveis à sua reeleição. Não há razões, portanto, para incidirmos em um movimento tático que pode transparecer oportunismo eleitoral. Temos que extrair lições de desacertos passados e de tantas outras experiências fracassadas. Quando há divisão e fragmentação do nosso campo, corre-se o risco de retrocedermos e perdermos a chance de vencer.
A aliança entre PT e PCdoB no município não se trata apenas de uma consequência local da relação histórica entre os dois partidos, nem tampouco de parcerias firmadas em nível estadual e nacional. A base dessa repactuação está sedimentada na unidade que o momento exige. A essência que une os dois partidos na cidade é a disposição de lutar em defesa da nossa pátria. Em defesa de um Brasil mais justo e igualitário. Em defesa, antes de tudo, do nosso projeto histórico. O PCdoB é um partido importante e de grande envergadura no campo popular, por isso, torna-se imperioso avançarmos na unidade em torno de uma agenda de lutas em defesa da democracia e de um programa mais avançado para Contagem.
Fazemos parte do governo liderado pelo PCdoB pois entendemos a importância de unificarmos nosso campo em torno do projeto nacional e também por compreendermos que a gestão comunista representa a continuidade de um projeto de cidade vitorioso. Nenhum programa fora interrompido, nenhuma obra paralisada. Não houve corte de investimentos nas políticas sociais, antes pelo contrário. Isto é, não há modificação substancial de rumos. O governo comunista continuou e ampliou o ciclo de transformações inaugurado pelo PT na cidade de Contagem, dando sequência no fortalecimento de uma cultura democrática e de participação popular, marcas indeléveis das administrações petistas.
Desde que entramos para o governo municipal, em fevereiro de 2015, assumimos uma nítida ofensiva programática, tanto na busca de resultados sociais concretos (em especial nas regiões fronteiriças de Contagem, onde a população mais pobre se queixa de abandono histórico; assim como na área das políticas sociais, habitação, desenvolvimento econômico e garantia dos direitos humanos), como na reconfiguração de sua base aliada. A adesão petista provocou uma inflexão do governo Carlin Moura à esquerda, desalojando lideranças e partidos antagônicos ao nosso projeto. Não sem razão, os tucanos desembarcaram da Prefeitura e lideram hoje um movimento oposicionista com vistas ao fortalecimento de uma candidatura para derrotar o atual prefeito. A disputa eleitoral em Contagem contará com um candidato tucano que, certamente, rezará a cartilha do PSDB, disparando contra o PT e contra o projeto democrático e popular.
Não podemos, portanto, permitir que nosso município seja atingido pelo retrocesso conservador. Temos a tarefa de defender a continuidade dos avanços iniciados em 2005. Nesse sentido, respeitamos a decisão da companheira Marília Campos, ex-prefeita e, atualmente, deputada estadual, de não disputar as eleições deste ano para a Prefeitura municipal. Destarte, diante de tal cenário, aumentam as chances de um apoio petista à reeleição do atual prefeito Carlin Moura, na medida em que a conjuntura impõe condições objetivas que diminuem as probabilidades de uma candidatura própria do PT.
3. Vai avançar, vai avançar: a unidade popular!
As eleições municipais de 2016 possuem dimensões estratégicas. O que está em jogo, antes de tudo, é o rumo do país. Todos aqueles e aquelas que sonham com um Brasil mais justo e, consequentemente, com uma Contagem mais justa, precisam se unir em torno de uma mesma missão, uma mesma bandeira: manter viva a chama da democracia, da igualdade, da justiça social, dos direitos humanos. Manter viva a esquerda!
A tática eleitoral do partido deve estar inteiramente subordinada à estratégia de acumular forças em torno da defesa da democracia e dos interesses dos mais pobres. O Brasil precisa dessa unidade popular para continuar avançando. Entendemos ainda que no embate que está colocado para a sociedade brasileira, existem apenas dois lados. De um lado estão os golpistas e aqueles que defendem os interesses dos mais ricos. E do outro, estamos nós, que defendemos a democracia, a continuidade do projeto democrático e popular, a integridade do presidente Lula, o legado petista e os interesses do povo mais pobre.
De igual maneira, compreendemos que opiniões diferentes e divergências no campo das ideias são a fonte de nossa força e partes indispensáveis ao amadurecimento democrático de qualquer organização. A diversidade petista é fator que dinamiza e revigora o partido. No entanto, apetecemos que nossas diferenças sejam tratadas internamente, tal como sempre foram.
Não podemos, em nenhuma hipótese, compactuarmos com movimentos à direita de desconstrução do governo comunista, do qual fazemos parte, nem tampouco endossarmos candidaturas oposicionistas que emanam do que de mais retrógado e conservador existe na política contagense. Ou saímos pela esquerda ou estaremos engrossando o caldo da ofensiva golpista que atinge nosso partido e nossos governos. No entanto, qualquer posição mais objetiva do PT em relação ao pleito municipal, antes de ser externada e levada ao conhecimento da cidade, será suficientemente amadurecida pelas vias do dialogo com a militância e com as direções estadual e nacional do nosso partido.
Assim, enquanto presidente do partido, conclamo toda a militância e todos os nossos filiados, bem como dirigentes e parlamentares, a participarem da agenda de debates que será construída pelo GTE e apresentada sob a forma de calendário eleitoral. A contribuição da militância petista torna-se imprescindível para a construção de nossa tão urgente quanto necessária unidade. Avaliamos que movimentos de fora para dentro em nada favorecem a elaboração de sínteses, pois fragilizam a relação da direção com a militância e dinamitam a legitimidade das instâncias de decisão do partido. O PT dispõe de mecanismos democráticos que possibilitam ampla participação, cujo nenhuma outra organização partidária dispõe. Assim, aos insatisfeitos ou descontentes com os rumos do partido o direito de fazerem a disputa e expressarem suas posições nos fóruns correspondentes e em momentos apropriados.
Em tempos tão difíceis e decisivos, não podemos permitir quaisquer ensaios que ameacem a continuidade dos avanços em nosso país. De nada adianta obtermos vitórias eleitorais nos projetos locais e sofrermos derrotas políticas que fragilizem ainda mais o projeto nacional. Mais vale, portanto, vencer politicamente em todos os níveis. Não podemos nos enganar com narrativas enevoadas que ignoram a complexa e delicada situação do país e do mundo. É hora de lutar por tudo aquilo que sonhamos e conquistamos nos últimos anos. E somente com uma unidade completa, sem dissidências, sem rupturas, sem omissões, conseguiremos manter vivo o brilho da estrela que nos orienta rumo à construção do socialismo. Para tanto, sigamos juntos e unidos, pois “pra frente é que se anda”.
Zé de Souza é vereador, líder da bancada petista e presidente do Partido.