Caminhando pelas ruas de Belo Horizonte e outras cidades do país, à noite, você pode ser surpreendido com grandes projeções denunciando o golpe em curso no Brasil. A iniciativa é de um grupo supra-partidário, progressista e de esquerda que se intitula “Projeções contra o golpe”.
O grupo é mais uma das inúmeras iniciativas espontâneas que pipocam país à fora, de cidadãos comuns, indignados com esse processo de impeachment ilegítimo e com o governo interino, que tem imposto retrocessos de direitos, implementando um programa que nunca passaria pelo crivo das urnas.
Entramos em contato com o grupo “Projeções contra o golpe” e nessa entrevista eles contam um pouco mais da iniciativa:
Vocês são um grupo independente? Quem participa?
Somos um grupo supra-partidário, progressista e de esquerda, composto por artistas, cineastas, designers, advogados, professores, médicos, gays, pretxs, brancxs, trans, lésbicas, pixadorxs, moradores de rua, pessoas comuns e toda multiplicidade e diversidade que cada quilômetro quadrado desse país comporta. Somos rizomáticos e estamos ligados a outros grupos. É a bela imagem criada por Eduardo Galeano: músculos secretos da sociedade civil organizada. Pode ser o que Toni Negri chama de “trabalho vivo”, executado pela “multidão”. Somos o que já foi chamado de povo, massa ou proletariado um dia. Somos o que si move em torno de um presente e futuro melhor para todxs. Estamos em devir permanente. Somos o que não tem nome.
Quais as iniciativas que promovem?
Além das projeções, temos realizado intervenções em estádios de futebol em dia de jogos transmitidos pela velha mídia golpista, principalmente contra a Rede Globo. Fazemos ocupações urbanas e rurais ou participamos destas como rede de apoio. Ações por mobilidade, como a tarifa zero, o passe livre e a construção de ciclovias. Praticamos também a agricultura urbana e a agroflorestal. A lista segue longa.
Porque das projeções?
As projeções são uma forma de ocupar espaços urbanos, tanto no que diz respeito à concreção física quanto no aspecto simbólico e imaginário. Normalmente a cidade é infestada por mensagens publicitárias, o capital em sua forma visível. As projeções democráticas são pela vida, pelos direitos e pela igualdade social dentre diversas bandeiras que levantamos, apoiamos e praticamos. É uma forma de por em circulação um discurso alternativo ao discurso hegemônico propagado por uma elite que corresponde a menos de 1% da população brasileira e mundial, mas que infelizmente controla a velha mídia e que nenhum governo até agora teve força ou coragem suficiente para enfrentar, como por exemplo, realizar uma revisão das concessões públicas de rádio e televisão. Então as projeções são uma das ações insurgentes de democratização autônoma e coletiva das mídias. Um caminho de construção de uma narrativa contra hegemônica feita de forma coletiva e orgânica dentro da batalha midiática.
O que esperam despertar nas pessoas?
Esperamos fortalecer a indignação coletiva que impera em grande parte da sociedade reforçando e dando visibilidade às narrativas em relação e contra o golpe político-jurídico-midiático.
Qual a avaliação de vocês do contexto atual?
Um golpe como este, com forças internacionais querendo tomar o pré-sal (vide telegramas Serra x Chevron vazados no Wikileaks), EUA e Europa contra o Brics e a plutocracia local querendo ampliar seus seculares privilégios é algo que nos deixa profundamente indignados. Não se trata nem mais de um acovardamento do STF e sim de uma conivência e participação direta no desenrolar do golpe.
É evidente, pelos avanços e ataques que se desenvolvem no golpe, os golpes dentro do golpe, que os objetivos continuam sendo os mesmos de sempre que já conhecemos bem e que temos exemplos bem claros, sobretudo na ditadura que se abateu sobre o Brasil em 64, eles são a usurpação e exploração das riquezas naturais (posse da terra, do petróleo, dos minerais, da água e da biodiversidade) e, como não poderia deixar de ser, a exploração e subjugamento dos trabalhadores brasileiros a ordem imperialista internacional.
A situação também deve ser vista num contexto internacional dos EUA retomarem as rédeas sob a América Latina, através deste novo formato de golpe, sem a participação do exército. Muda-se as formas, mas os atores envolvidos no golpe continuam sendo os mesmos.
Assessoria de Comunicação PTMG
Fotos: Projeções contra o golpe