O controle sobre as diversas formas de manifestação intelectual é quase tão antigo quanto o próprio pensamento e se fez presente em grandes civilizações, como a grega clássica e o Império Romano. Mas, como mostram obras como “Minorias Silenciadas”, de Maria Luiza Tucci Carneiro, da Edusp, a prática se disseminou no século XX, quando foi institucionalizada por governos totalitários.
No Brasil, não foi diferente, e esse tipo de atitude só deixou de ser política institucional com a derrocada da ditadura militar. Em Minas, porém, foi como se a redemocratização tivesse deixado de existir a partir de janeiro de 2003. Com a ascensão de Aécio Neves (PSDB) ao governo naquele ano, o Estado se viu novamente mergulhado nas trevas da censura. Mas, dessa vez, o silêncio foi imposto pelo poder econômico.
Ao lançar seu livro “O Quarto Poder – Uma Outra História na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa”, o jornalista Paulo Henrique Amorim lançou luz também sobre as entranhas da grande mídia do país antes, durante e após a ditadura. E mostrou que o que considera um “ambiente de obscurantismo” criado pelo PSDB em Minas ocorre também na imprensa nacional, comandada há décadas por seletas famílias.
Como alvo principal cita o jornalista Roberto Marinho e a Rede Globo, a quem acusa de manipular notícias, debates e discursos políticos ao longo de cinco décadas. Mas as críticas também se dirigem aos demais integrantes do chamado “PIG” (Partido da Imprensa Golpista), expressão popularizada pelo próprio Amorim. “Partido” que mais uma vez escancara suas garras na campanha que desencadeou para tentar tirar do poder uma presidente eleita democraticamente.
No caso de Minas, Paulo Henrique Amorim, entre agradecimentos pela aproximação que fiz com Leonardo Boff, lembrou que parte do Legislativo não se curvou ao censor. E compara a postura da oposição ao então governador Aécio Neves a seu livro. “É uma tentativa de contribuir com a liberdade de imprensa. Tentativa que nesta Assembleia acompanhei pelo Bloco Minas sem Censura, uma maneira que Minas encontrou de associar sua luta a uma luta nacional mais ampla pela liberdade de expressão”, declarou.
Para ele, apesar de passado quase um ano da saída do PSDB do governo mineiro, ainda há “resquícios do obscurantismo” criado por Aécio na imprensa. “Espero que este governo (Pimentel) consiga acabar”, salientou. Em relação à mídia nacional, porém, a esperança reside no acesso à comunicação mais plural, que permite um debate de ideias e argumentos em vez do discurso de ódio propalado diariamente.
Essa mudança já começa a fazer efeito no destino dos recursos publicitários e oficiais, que deixam de irrigar contas deficitárias de veículos, como fizeram ao longo dos anos. Lamento apenas ainda não ter sido suficiente a ponto de alterar a postura da grande mídia, que parece preferir o obscurantismo. Até quando?
Fonte: O Tempo
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